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Raquel Landim – O Estado de S. Paulo

Grupos brasileiros cruzam a fronteira para pagar salários menores e menos imposto

As empresas brasileiras estão cruzando a fronteira rumo ao Paraguai em busca de mão de obra barata e menos impostos. Quase 30 companhias já fizeram esse caminho, instalando filiais no vizinho, estimulando seus fornecedores a investir ou terceirizando parte de sua produção para manufatureiros locais.

Segundo José Franco, gerente de projetos da Rede de Investimento e Exportação (Rediex), do ministério da Indústria e Comércio do Paraguai, os locais preferidos pelos brasileiros são os arredores da capital Assunção e, principalmente, a fronteira com o Paraná no “triângulo” formado por Hernandarias, Presidente Franco e Ciudad del Este.

Os setores mais visados são autopeças, confecções, calçados e plásticos. Na maior parte dos casos, a estratégia é a mesma: os insumos são importados da China, a manufatura é feita no Paraguai e o produto é vendido no Brasil. Está se tornando mais comum marcas conhecidas como Buddemeyer, Penalty, Adidas e Fila serem vendidas por aqui com etiquetas “made in Paraguai”.

A Volkswagen do Brasil está adquirindo autopeças da Fujikura desde o ano passado. A montadora compra chicotes elétricos (uma espécie de rede que interliga os vários sistemas dos carros) da empresa paraguaia. Segundo a assessoria de imprensa, “isso faz parte da estratégia de buscar fornecedores globalmente”.

Também há companhias que se instalam no Paraguai para aproveitar vantagens competitivas locais. É o caso dos frigoríficos, que se beneficiam do grande rebanho bovino. Em setembro de 2012, o Minerva comprou o Frigomerc e mais que dobrou sua capacidade de abate no país. “Nos últimos dois anos, a operação no Paraguai é uma das maiores geradoras de caixa para a empresa”, diz Edison Ticle, diretor financeiro.

Atrativos. A possibilidade de reduzir custos é o principal atrativo do Paraguai em um momento em que a indústria fraqueja no Brasil, por causa da queda da produtividade e da escassez de mão de obra. Entre as desvantagens paraguaias, estão o preconceito que ainda persiste contra os produtos feitos no país, a recente valorização da moeda local, o guarani, e a logística complicada por conta da falta de acesso marítimo.

Mas, para os empresários, ainda compensa cruzar a fronteira para aproveitar as vantagens do Paraguai. O custo da energia elétrica, por exemplo, é 63% inferior no Paraguai, mesmo após a redução de tarifa promovida pela presidente Dilma Rousseff. O Paraguai é sócio do Brasil em Itaipu e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) está financiando a construção de uma linha de transmissão para levar a energia da usina até Assunção e acabar com os constantes apagões.

“O Paraguai tem uma das mais baixas cargas tributárias do mundo e uma legislação trabalhista flexível. É o contrário do Brasil”, diz Wagner Weber, diretor do Centro Empresarial Brasil Paraguai (Braspar). No Paraguai, o imposto de renda (IR) e o imposto sobre valor agregado (IVA) estão em 10%. No Brasil, as empresas pagam 25% de IR e três impostos no lugar do IVA (PIS, Cofins e ICMS), que somam 27%.

A legislação trabalhista paraguaia é outro ímã para as empresas. No Paraguai, o trabalhador só tem 12 dias de férias até completar cinco anos na empresa, a jornada é de 48 horas, não existe FGTS, contribuição sindical ou sistema S. Os tributos sociais significam um acréscimo de 16,5% na folha de pagamento, enquanto no Brasil um funcionário custa o dobro do seu salário para a empresa por causa dos impostos.

Investidor. O Brasil é hoje o segundo maior investidor estrangeiro no Paraguai atrás dos Estados Unidos, segundo o Banco Central paraguaio. Em 2012, o País já tinha aplicado US$ 511 milhões no vizinho, alta de 50% em relação a 2011 e um volume expressivo para o sócio mais pobre do Mercosul. O maior investimento brasileiro no Paraguai é a fábrica de cimento da Camargo Corrêa, que custou US$ 160 milhões e deve começar a produzir no ano que vem.

No ano passado, as importações brasileiras vindas no Paraguai chegaram a US$ 987 milhões, alta de 38%. O desempenho impressiona num ano em que a economia brasileira ficou estagnada e as compras externas totais do País caíram 1,4%. As importações de carnes saltaram de US$ 20 milhões em 2009 para US$ 103 milhões em 2012. No setor de plásticos, o avanço foi de US$ 39,4 milhões para US$ 50,6 milhões.

Fonte: O Estadão

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