Brasileiros aplicaram US$ 413 milhões em negócios no país vizinho no ano passado. Em 2005 haviam sido US$ 137 milhões.
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Com baixa carga tributária e mão de obra barata, o Paraguai tornou-se uma espécie de porto seguro para empresários brasileiros. De 2005 a 2009, os investimentos no país vizinho vindos do Brasil triplicaram – passando de US$ 137 milhões para US$ 413 milhões. A expansão segue o mesmo ritmo dos aportes norte-americanos, mas está bem acima do crescimento de investimentos com origem argentina. Os negócios não só cresceram como se diversificaram. Em 2005, a maioria dos brasileiros abria empresas no Paraguai na área de metalurgia e confecções. Hoje, eles investem também em hotelaria, comércio de artigos esportivos, calçados, cimento e frigoríficos.
A rede brasileira de hotéis Bourbon terá no Paraguai seu primeiro empreendimento no exterior. No ano passado, o grupo foi escolhido pela Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol), por meio de licitação, para construir um hotel cinco estrelas em Assunção, capital do Paraguai, com investimentos de cerca de US$ 30 milhões. O Bourbon Conmebol Convention Hotel já está em obras, e fica localizado junto ao prédio da Conmebol, onde já existe um centro de convenções e o Museu do Futebol. O empreendimento terá 168 apartamentos, além de academia, salão de beleza e spa – aos moldes dos hotéis de luxo da rede no Brasil. O hotel será o maior espaço com centro de convenções no Paraguai, com acomodação para cerca de 4 mil pessoas. A inauguração está prevista para o dia 1.º de maio, aniversário do bicentenário da independência paraguaia.
O gerente geral da unidade Bourbon Cataratas, em Foz do Iguaçu, Francisco Calvo, diz que inúmeros fatores levaram a empresa a decidir pelo investimento no Paraguai, incluindo a expertise da rede em centros de convenções e o potencial do Paraguai em desenvolver um mercado voltado ao brasileiro. O crescimento da economia paraguaia e o dinamismo de Assunção – cidade que tem atraído muitos eventos – também pesaram na balança. Segundo Calvo, a ideia é que os turistas retomem o antigo roteiro entre Foz do Iguaçu e Assunção, comum antes da construção da usina hidrelétrica de Itaipu e do crescimento do comércio em Ciudad del Este. “Nosso objetivo é conseguir que pelo menos 10% do público que vai às Cataratas faça um prolongamento à capital paraguaia”, diz. A distância entre as duas cidades é de 350 quilômetros.
O presidente da Associação Industrial de Alto Paraná (ASIP), Carlos González, vê com bons olhos a presença de brasileiros no Paraguai. Além de os negócios gerarem novos empregos, ele entende que os investimentos trazem tecnologia para o país. Até há pouco tempo, diz González, os paraguaios procuravam a Espanha e a Itália para trabalhar. Hoje, 80% conseguem trabalhar no próprio país. O secretário de Indústria e Comércio de Alto Paraná, Nelson Amarilla, diz que o momento favorável da economia do Brasil também alavanca o Paraguai. “O Brasil é uma locomotiva do Mercosul. Quando o país vai bem, nós também nos saímos bem.”
Inflação
Por outro lado, González acredita que os altos salários pagos pelos brasileiros inflacionaram o mercado. “Como o custo do empregado é baixo, os brasileiros pagam melhores salários.” No Paraguai, o salário mínimo equivale hoje a R$ 590, para uma jornada de 48 horas (no Brasil são 44 horas). A legislação paraguaia prevê ainda o direito a 12 dias de férias no primeiro ano de emprego. Só após 10 anos de trabalho se ganha o direito de gozar 30 dias (com exceção de algumas categorias que têm contratos diferenciados).
País de população jovem e mão de obra barata
Além do baixo custo com encargos trabalhistas, o diretor do Centro Empresarial Brasil-Paraguai (Braspar), Wagner Enis, diz que há outras características da legislação paraguaia que atraem investimentos brasileiros no país. Ele cita, por exemplo, os encargos sociais (IPS, férias e 13º salário) do país, que representam 35% do salário base – contra 105% no Brasil – e a carga tributária representa 8% do PIB, enquanto no Brasil é de 36,5%. Além disso, o Paraguai tem a população mais jovem da América do Sul, o que o torna competitivo quando a questão é mão de obra.
Para o diretor, a infraestrutura no país vizinho também motiva os investimentos. O país tem hoje 5 mil quilômetros de rodovias asfaltadas, pedágio com preços entre R$ 2 e R$ 4, e três aeroportos a cerca de uma hora e meia dos principais centros de negócios do Mercosul – o país é considerado um ponto estratégico não só para a aviação, mas para toda a logística de importação e exportação. Ainda em relação ao transporte, Enis argumenta que a hidrovia Paraná-Paraguai – que hoje movimenta mais de 15 milhões de toneladas/ano – reduz o custo do transporte em até 75% do Paraguai até portos da Argentina ou do Uruguai.
Energia
As perspectivas de negócios entre Brasil e Paraguai devem melhorar a partir do próximo ano em razão da construção de uma linha de energia de 500 KV entre Itaipu e Assunção. A licitação para a obra já foi lançada e as propostas serão recebidas em 7 de dezembro na sede da Itaipu em Foz do Iguaçu. A linha vai resolver a instabilidade de energia elétrica em Assunção, que hoje dificulta o trabalho de indústrias e empresas no país. (DP)
Fonte: Gazeta do Povo