Na região da fronteira, uma nova leva de brasileiros dá impulso a um boom imobiliário marcado por condomínios de alto padrão.
O agronegócio e a indústria alavancam o boom imobiliário no Paraguai. Casas de luxo, edifícios e imóveis comerciais de alto padrão despontam em meio ao verde da lavoura e transformam o país em um destino cobiçado para morar. Impulsionada, em parte, pela chegada de uma nova leva de imigrantes brasileiros, a construção civil prospera nos municípios situados na fronteira com o Brasil, em um cenário que nada lembra bugigangas e contrabando.
Conhecida como capital da energia elétrica por abrigar o braço paraguaio da Itaipu Binacional e a represa de Acaray, Hernandárias, a 15 quilômetros de Ciudad del Este, tem um dos maiores condomínios horizontais da América Latina, o Paraná Country Club. Em quatro anos, o número de casas no condomínio triplicou, passando de cerca de 300 para 940. Os lotes, que valiam aproximadamente US$ 20 mil, hoje são vendidos por até US$ 120 mil.
US$ 3 milhões é o valor de algumas residências no supercondomínio Paraná Country Club, em Hernandárias. Uma das casas tem 9 mil metros quadrados e 86 funcionários. Cerca de 7 mil pessoas moram no condomínio, das quais 30% são brasileiras, e desfrutam de requintes como campos de golfe e pista de pouso.
Fonte: Christian Rizzi/Gazeta do Povo
Desde 2005, 20 loteamentos e dez condomínios foram abertos em Santa Rita, cidade colonizada por brasileiros
Comércio e grãos sustentam crescimento
O diretor-presidente do Centro Empresarial Brasil-Paraguai (Braspar), Wagner Enis Weber, relaciona o crescimento do Paraguai em 2012 ao fortalecimento da indústria e dos serviços e à recuperação dos preços de soja, milho e trigo. No ano passado, o país cresceu apenas 3,5% porque houve quebra na safra de grãos, mas neste ano as estimativas favoráveis para a soja devem mudar o panorama. Segundo dados do Braspar, em 2011 o Produto Interno Bruto (PIB) do Paraguai foi de US$ 52,6 bilhões, o 11º da América Latina.
A prosperidade na construção civil também é sustentada em parte pela expansão comercial da região de Ciudad del Este, na fronteira com Foz do Iguaçu, a partir da instalação de novos shoppings, indústrias e pequenas empresas e do aquecimento do setor turístico.
Em 2011, Ciudad del Este movimentou US$ 20 bilhões em vendas, conforme o Censo Econômico do Paraguai. O PIB da cidade é de US$ 5,1 bilhões, ou seja, 10% do nacional.
Apostando no turismo, grupo brasileiro cruzou a fronteira
A oferta e construção de imóveis comerciais também aquece o mercado paraguaio. Prédios e galerias ganham as ruas de Ciudad del Este, Hernandárias, Santa Rita e Catuetê. Tradicional em Foz do Iguaçu, o Grupo Rafain, que atua no setor de bares, restaurantes e hotéis, resolveu cruzar a fronteira. Apostando no Paraguai, o grupo construiu uma churrascaria em Hernandárias, vizinha a Ciudad del Este, ao estilo da existente no Brasil.
Com capacidade para 500 pessoas, o estabelecimento, inaugurado em outubro do ano passado, também é procurado para sediar festas de casamentos, eventos de empresas e shows. O gerente Lorival Guilhermo diz que os imigrantes brasileiros que vivem no Paraguai estão entre os principais clientes. Antes, muitos cruzavam a Ponte da Amizade para ir ao Brasil.
O arquiteto Nilson Rafain diz que o grupo aposta na redenção do turismo no Paraguai. No passado, lembra, era comum brasileiros visitarem Assunção e frequentarem, durante a noite, bares e restaurantes de Ciudad del Este.
Com cerca de 700 hectares (o equivalente a 700 campos de futebol), o supercondomínio, de área comercial e residencial, é uma cidade à parte que reúne 7 mil moradores, dos quais cerca de 30% são brasileiros. Algumas das residências são de padrão cinematográfico – uma delas tem 9 mil metros quadrados e 86 funcionários.
O condomínio tem dois campos de golfe, quadra de tênis, clube social, pista para pouso de aeronaves de pequeno porte, estande para prática de tiro e fica às margens do Rio Paraná, com vista para a Ilha Acaray, próximo à Ponte da Amizade.
Na área comercial há uma universidade privada, três bancos, três revendedoras de carros (das marcas Mercedes-Benz, BMW e Honda), seis restaurantes, Colégio Anglo-Americano, supermercado e quatro hotéis. Salões de beleza, clínicas médicas e supermercados completam o cenário de opções comerciais. “Aqui nos sentimos mais seguros que em Foz”, diz um dos moradores, o presidente do Shopping Del Este, o brasileiro Adriano Cauhi.
O empresário trocou o Brasil pelo Paraguai em 2004 e não pensa em fazer o caminho de volta. Os brasileiros encontram no Paraguai uma energia elétrica 50% mais barata e constroem a um custo 30% menor. A baixa carga tributária viabiliza a abertura de microempresas e o retorno em curto prazo. “A segunda e a terceira geração de brasileiros [no Paraguai] estão se urbanizando e a prosperidade é maior”, diz o cônsul-geral do Brasil no Paraguai, Flávio Roberto Bonzanini.
Investimentos
O Country não é a única opção de moradia em Hernandárias. A cidade de 82 mil habitantes é um canteiro de obras com edifícios e condomínios em construção. Lotes de um condomínio residencial à beira do Lago de Itaipu, cuja orla será remodelada, também estão sendo comercializados. Na região de Ciudad del Este, há loteamentos e condomínios fechados. “As pessoas estão interessadas em segurança”, diz Clarise Gonzalez, representante de uma imobiliária.
Mansões mudam cenário na capital da soja
Cidade de 30 mil habitantes colonizada por brasileiros, Santa Rita, a 70 quilômetros de Foz do Iguaçu, não passava de um amontoado de casas simples com ruas sem asfalto há 30 anos. Hoje é um dos municípios do interior do Paraguai que mais crescem.
Na capital da soja, que também começa a se destacar no setor industrial, cerca de 20 loteamentos e dez condomínios, horizontais e verticais, foram abertos desde 2005. Hoje há mais de 1,2 mil imóveis em construção, entre comerciais e residenciais.
Acostumada a atender imigrantes brasileiros no Paraguai, a arquiteta Thelma Amaral, de Foz do Iguaçu, diz que os clientes procuram um estilo residencial personalizado e refinamento. É comum encontrar nas casas uma ampla área de lazer com churrasqueiras feitas em ambientes fechados com ar-condicionado e piscinas.
Os brasileiros, que iniciaram a marcha rumo ao Paraguai na década de 1970, hoje se dividem entre a lavoura e a cidade. Incentivados pelos filhos, que se formaram e buscam o conforto das residências, eles começaram a investir na construção civil.
Aquecido há quatro anos, o mercado recebe um novo impulso quando a safra de grãos é favorável. “As vendas de material de construção dobraram nos últimos quatro anos”, diz Fernanda Naumann, gerente de uma loja de material de construção.
O casal de arquitetos brasileiro Adelio Correia dos Santos e Vilma Martins dos Santos mudou para o Paraguai em 2005 para trabalhar em uma construtora. Hoje têm o próprio negócio e atuam na construção de silos e casas de luxo em propriedades rurais.
Com o aquecimento do mercado, mão de obra e matéria-prima estão em falta. Hoje em todo Paraguai há duas fábricas de cimento, uma estatal e outra privada, que não conseguem atender a demanda, o que estimula o contrabando brasileiro. Este ano deve ser inaugurada a Cimentos Yguazú, do grupo Camargo Corrêa.